Estava escrito...

Ninguém pode fugir do seu destino.
Sempre acreditei que as coisas acontecem porque têm que acontecer...hoje, pensando em tudo o que fiz e o que passei pra estar aqui, sei que isso é mesmo verdade.

Tudo aconteceu por causa de uma viagem de férias que fiz à Santa Catarina com a minha irmã. Fomos para as praias do sul do estado. Ficamos lá quase 20 dias...conhecemos muita gente legal, saímos da rotina e da loucura que é São Paulo. Até que um dia, falei à minha irmã:

_ Eu vou me mudar pra Florianópolis.
_ O quê?
_ É isso mesmo... vou pedir transferência do trabalho e da faculdade e venho morar aqui!
_ Ah...se você vem, eu também venho.

Quando voltamos de férias eu já não aguentava mais ficar em São Paulo. Fizemos empréstimo no banco, convidamos uma amiga e voltamos para a Praia da Ferrugem no carnaval. Só que agora, com pouco dinheiro e sem todo aquele conforto.
Foram 18 horas de viagem de ônibus que não tinha nem ar condicionado. Na volta foi mais rápido: apenas 15 horas de viagem!
Mas voltamos mais decididas do que nunca. Custasse o que custasse, eu iria morar lá. No trabalho, procurava fotos de Florianópolis pra colocar como fundo de tela. Começamos um trabalho de convencimento com meus pais até que a minha mãe se rendeu e se propôs a mudar conosco. Era mais uma aliada! O mais difícil foi meu pai...esse demorou um pouco pra se convencer.
Lembro de um dia em que ele foi me buscar no trabalho e toquei no assunto. Ele sempre foi uma pessoa muito racionalista, era difícil vencê-lo pela emoção como fizemos com minha mãe. Mas para cada pergunta que ele fazia, eu tinha uma resposta...até que ele se convenceu e resolveu nos apoiar.
Cheguei no trabalho certa de que seria fácil. Engano meu! Quando contei para meu chefe, ele riu:

_ Você não vai conseguir!
_ Eu vou, sim.
_ Mas eu não autorizo.
_ Então vou falar com o Gerente Geral!

E fui mesmo. Outro balde de água fria...ele me disse que eu jamais conseguiria porque ele também não autorizaria. A raiva e a frustração me fazia ainda mais forte...eu sabia que iria conseguir. Contar para os meus amigos também não foi fácil. Cada um tinha uma reação diferente, mas todos eles se tornaram muito mais próximos porque não sabiam até quando eu ficaria perto deles.
Três meses depois meus irmãos e minha mãe se mudaram e eu estava longe de conseguir a minha transferência. Aquilo me deixava ainda mais obstinada a conseguir o que queria. Enquanto isso, as coisas em São Paulo iam muito bem: cercada de amigos, consegui uma nova função no trabalho e passei a ganhar mais. Trabalhava muito, estudava, mas me divertia muito também.
Nove meses haviam se passado e nada! Eu precisava fazer alguma coisa.
Marquei as minhas férias e avisei ao gerente:

_ Vou sair de férias e não volto. Se vocês não conseguirem a minha transferência, eu peço demissão!

Claro que eu não faria aquilo! Sou empregada pública concursada, jamais poderia abrir mão da segurança do meu emprego por um sonho, simplesmente. Mas eu blefei! E deu certo. Quase no final das minhas férias, eu consegui a tal da transferência.
O preço que eu paguei pelo meu sonho foi alto: perdi a convivência com todos os meus amigos de uma só vez, deixei pra trás parte da minha família, uma história bonita que poderia ter dado certo, perdi a função que eu havia conseguido, minha família se separou..
Resumo: vim ganhando menos e gastando mais!
Mas nada disso me fazia desistir. Eu tinha dentro de mim uma certeza de que deveria fazer aquilo e nunca me arrependi. Depois de tudo, muitas vezes eu olhei pra trás e não conseguia acreditar que havia feito tudo aquilo. Acho que nem eu sabia que era tão forte.
Dizem que quando queremos muito uma coisa, o Universo conspira para que consigamos. Acho que foi isso...essa era a minha Lenda Pessoal.
E hoje eu sei o motivo de tudo isso:
Eu vim buscar Sophia!
A minha filha estava aqui me esperando e eu tinha que vir buscá-la. Essa é a única explicação que eu encontro quando penso em tudo o que passei até agora. Quando cheguei aqui, vi muitas coisas acontecerem na minha vida sem que eu mesma tivesse controle. Era como se eu fosse uma expectadora da minha própria vida, assistindo de fora ela acontecer, sem que eu mesma pudesse guiá-la.
Mas tudo isso valeu a pena porque agora eu tenho Sophia.