Os 31 primeiros dias de Sophia

Sophia ficou no hospital durante 31 longos dias!





Eu acabei ficando internada um dia a mais do que o permtido, ou seja, 3 dias. Mas logo tive que ir pra casa. Foi muito sofrido ter que deixar Sophia naquele hospital!


Por mais que eu tenha ficado no quarto sem conseguir me locomover direito, eu sabia que ela estava ali perto e que se a saudade fosse insuportável eu iria vê-la de qualquer maneira, mas em casa seria mais difícil.


Eu chegava no hospital por volta das 8:00h, 9:00h e só saía de lá por volta das 23:00h. Passava praticamente todo o dia sentada ao lado da incubadora dela tentando tirar leite, que ela começou a tomar 3 ml através da sonda. No início saía só algumas gotinhas mas daquilo dependia a evolução da minha filha, então, cada gotinha daquela era uma vitória pra mim.

Um dia, de repente, o leite começou a secar... eu não conseguia mais tirar a quantidade que ela precisava. Fiquei tão mal com aquilo, me sentia tão fracassada, incapaz de prover o leite que alimentava a minha filha. E quanto mais eu ficava preocupada com aquilo, mais meu leite faltava. Até que um dia uma das enfermeiras da UTI, a Michele, me tranquilizou dizendo para que eu fosse pra casa aquela noite e dormisse, descansasse bastante. E que eu ficasse tranquila porque o NAN iria substituir o meu leite, e que Sophia não teria nenhum prejuízo na sua evolução por causa disso. E eu fiz o que ela me disse! A partir daí, quando resolvi desencanar, o meu leite começou a descer...

Minha filha evoluía muito bem e era da evolução dela que eu tirava a minha força, eu não podia desapontá-la! Sophia era tão forte que eu me sentia obrigada a ser forte também... aquele olhar dela me dizia tantas coisas... ela já veio ao mundo me ensinando que somos capazes de superar QUALQUER COISA!

Esse período em que passei no hospital foi muito importante pra mim. Foi lá que eu aprendi a ser mãe, a conhecer minha filha, apesar dela estar ali dentro daquela "caixinha" tão longe do meu abraço, estávamos cada dia mais próximas. E Sophia, a cada dia, conquistava mais as pessoas, as fazia se apaixonar por ela...Sophia é como um imã: todos se sentem atraídos por ela, pelo seu olhar tão intenso que desconcerta as pessoas. Uma vez a tia do pai dela disse que se sente nua diante do olhar da Sophia... e, realmente, ela parece enxergar através da alma das pessoas....

A crise

E então, quando me dei conta de toda a situação, eu tive uma crise!

Tudo aconteceu muito de repente... imagine só: eu estava passando por uma gravidez tranqüila, estava em uma fase boa, em que as dificuldades estavam passando e eu me sentia mais forte e feliz, montando o quartinho e arrumando os preparativos para a chegada de Sophia quando comecei a ter as contrações.

De uma hora para a outra, me colocaram em cima de uma cama num centro cirúrgico, tiraram a minha filha de dentro de mim e a colocaram dentro de uma caixinha onde eu não podia pegá-la, acariá-la, beijá-la e nem cuidar dela como fazem as mães! O único contato físico que eu tinha com ela era através de um buraco numa encubadora e ela era tão frágil e tão pequena que só podia tocá-la com a ponta dos dedos e eles pareciam enormes perto dela.

Nem uma mulher grávida está pronta pra isso... o curso natural das coisas é uma mãe gerar seu filho por 9 meses dentro de sua barriga e pegá-lo no colo no momento do seu nascimento e, em seguida, amamentá-lo... mas ninguém está pronto pra passar pelo que eu passei e pelo que passam todas as mães de filhos prematuros. Eu não acordei naquele dia 27 de setembro para dar à luz a minha filha!

Era dia 02 de outubro de 2006 quando peguei minha filha no clo pela primeira vez. Eu subi com o pai da Sophia para vê-la. Estávamos olhando e conversando com ela e, de repente, senti uma coisa meio difícil de explicar... um mal-estar, uma agonia, sei lá. Pedi a ele que saíssemos dali.. ele não entendeu muito bem, queria ficar mais um pouco porque tínhamos acabado de chegar, mas eu insistí.

Quando chegamos no corredor eu comecei a chorar muito... o abracei e disse:

_ Eu quero a minha filha!!! Não agüento mais essa distância, eu quero pegar a minha filha no colo!!!!

Ele tentou me acalmar, me levou de volta ao quarto e me colocou na cama. Eu continuei alí chorando e ele voltou à UTI para ver a Sophia.

Depois de um tempinho ele voltou ao quarto e disse:

_ Amanhã você vai pegar a Sophia no colo!

Aquela foi a melhor coisa que eu pude ouvir naquele momento! Comecei a chorar mais ainda, mas agora era de felicidade. Eu mal podia esperar para chegar o dia seguinte! Eu passei a noite toda ansiosa e tentando descobrir como fariam aquilo..como iam fazer para tirar a minha pequena cheia de fios, de dentro daquela caixinha e colocá-la no meu colo...

No dia seguinte, chegamos à UTI muito nervosos. Não via a hora de sentir a minha filha junto de mim de novo, mas agora fora da minha barriga, podendo olhar nos seus olhinhos, podendo fazer carinho... Meu Deus! Como eu sonhei com esse dia!

Eu sentei na cadeira de amamentação que havia ao lado da encubadora. A enfermeira abriu a lateral da "caixinha" e tirou a Sophia de lá com a maior prática do mundo e a colocou no meu peito. Eu estava apenas com um avental, sem camisa por baixo para que eu e minha filha sentíssemos o calor uma da outra e, querem saber? FOI A MELHOR SENSAÇÃO QUE EU JÁ SENTI NA MINHA VIDA!!!!!!!

Ficamos alí, nos "sentindo" por uma hora... e foi lindo!

A primeira visita da mamãe

Depois do parto, Sophia foi para a UTI Neonatal para os primeiros atendimentos.

Eu fui para a sala de recuperação até passar o efeito da anestesia, depois desci para o quarto. Nas primeiras 12 horas, a mãe fica em repouso ABSOLUTO sem poder se levantar nem para ir ao banheiro. Isso significava que eu só poderia ver a minha filha às 7 horas da manhã do dia seguinte.. foi a maior espera da minha vida!!!!

Mesmo porque, não me liberaram para vê-la já logo pela manhã... eu não me lembro muito bem a que horas pude ir, mas sei que demorou... e a espera pra mim era interminável!

Então eu satisfazia a minha vontade de estar com minha filha e a minha preocupação através do pai dela. A toda hora eu pedia que ele subisse para ver como ela estava. Acordava várias vezes no meio da noite só para pedir pra ele me trazer notícias... e ele ia, com toda a paciência do mundo!

A primeira vez que fui à UTI ver Sophia ainda estava muito fraca. Não consegui ficar por muito tempo porque a minha pressão logo baixava e eu tinha sensações de desmaio. Mas o pouco tempo que estava com ela era a melhor coisa pra mim... minha filha! Tão pequena e tão perfeita... tão frágil e ao mesmo tempo tão forte!

Ela estava ali, alheia à toda a confusão do mundo lá fora... contrariando a previsão do médico e confirmando o que eu já sabia: minha filha viera ao mundo pra vencer qualquer dificuldade!!!